Evento
Darcy James Argue, direção musical
Dave Pietro, flautim, flauta, flauta alto, saxofone soprano, saxofone alto
Rob Wilkerson, flauta, clarinete, saxofone soprano, saxofone alto
Peter Hess, clarinete Eb, clarinete Bb, saxofone tenor
Lucas Pino, clarinete, clarinete baixo, saxofone tenor
Carl Maraghi, clarinete, clarinete baixo, saxofone barítono
Jonathan Powell, trompete
Sam Hoyt, trompete
Matt Holman, trompete
Nadje Noordhuis, trompete
David Smith, trompete
Mike Fahie, trombone
Ryan Keberle, trombone
Darius Christian Jones, trombone
Jennifer Wharton, trombone
Sebastian Noelle, guitarra
Adam Birnbaum, piano
Matt Clohesy, contrabaixo
Jared Schonig, bateria
15,00 eur / 12,50 eur c/d
O Guimarães Jazz encerrará a sua edição de 2017 com a estreia em Portugal de um dos mais inventivos e originais projetos de big band da atualidade: a Secret Society, um ensemble de dezoito músicos liderado por Darcy James Argue, um compositor jovem e idiossincrático, com uma singular visão musical e artística, que se tem afirmado como um dos valores emergentes do jazz contemporâneo.
Após um período de formação que incluiu uma passagem pelo New England Conservatory of Music, onde estudou composição com Bob Brookmeyer, Darcy James Argue (n.1975, Vancouver, Canadá) mudou-se para Nova Iorque, estabelecendo-se definitivamente em Brooklyn no ano de 2003, e, dois anos depois, funda a big band Secret Society, reunindo em torno de si e das suas composições um notável grupo de instrumentistas, entre os quais se conta o notável saxofonista John Ellis. Em paralelo com a atividade do ensemble do qual é mentor, Darcy James lidera também um outro projeto de orquestra (a Jazzgroove Mothership Orchestra) e colabora frequentemente com algumas das mais prestigiadas big bands do mundo, tais como a WDR Big Band e a Orquestra de Jazz Contemporâneo de Colónia, tendo também trabalhado recentemente com a Orquestra de Jazz de Matosinhos. A sua obra enquanto compositor e diretor de orquestra tem merecido amplo reconhecimento público, sendo considerada por alguns críticos de jazz como um exemplo do como o jazz orquestral do futuro soará, e tendo inclusivamente sido várias vezes nomeada para os Grammys e outros prémios de música.
Darcy James editou o primeiro álbum com a sua Secret Society, intitulado Infernal Machines, em 2009, a que se seguiu o aclamado Brooklyn Babylon, em 2013, que foi o resultado de uma performance multimédia criada por Darcy James em parceria com o artista Danijel Zezelj. Real Enemies, o seu trabalho mais recente, foi também concebido como parte de uma performance multimédia, desta vez em colaboração com o escritor e realizador Isaac Butler, acerca das estratégias de propaganda e vigilância caraterísticas das sociedades contemporâneas. O imaginário distópico é, aliás, uma caraterística distintiva da visão artística do compositor, uma vez que as suas peças instrumentais são apoiadas por um subtexto narrativo de forte conteúdo político. O tom geral das peças que compõe o álbum transmite uma impressão imersiva de claustrofobia e paranoia, naquela que se pode considerar, mais do que uma evocação, uma citação das bandas sonoras dos filmes noir da primeira metade do século passado e dos ambientes psicológicos típicos da Guerra Fria, agora na sua versão digital.
As composições complexas e multidimensionais de Darcy James Argue revelam um conhecimento profundo das big bands da “era dourada” do jazz e dos seus métodos de construção melódica e rítmica, que em Real Enemies é atualizado por uma miríade de influências e contaminações estéticas – desde o pós-rock e o funk até à música minimal contemporânea, do cinema político norte-americano ao escritor William S. Burroughs, de Duke Ellington a Philip Glass. Nesse sentido, pode dizer-se que a multi-referencialidade é um dos traços distintivos da música deste compositor, na qual é desenvolvida uma linguagem composicional própria que, sendo percecionada como um detonador de associações entre elementos diferentes musicais e discursivos, parece emular as estratégias criativas usadas na colagem, no caso da arte, ou da montagem, no cinema.
Intensamente imaginativas, as composições de Real Enemies revelam-nos estarmos perante um compositor inquieto e vigilante, determinado a compor música comprometida com o presente da sociedade e da arte, e isso apenas bastaria para atestar a sua pertinência. No entanto, a superlativa qualidade das composições de Darcy James Argue elevam este seu projeto ao patamar da excelência artística, que o Guimarães Jazz terá o privilégio de testemunhar.